A estética do vazio

sexta-feira, 28 de maio de 2010 0 comentários

A moda agora é ser visto como cult, é ser autêntico por fora, é ter um visual soft. Não é preciso ser nada, basta parecer que é e será o suficiente. No fundo se sabe que para quase todo mundo a aparência é mais importante que a bagagem e que o que tem valor é o estar alinhado com as tendências. Não importa se o sujeito é de fato o que parenta ser, e isso de alguma forma é um alívio para o esvaziado. O que se sabe é: ninguém vai de fato gastar muito tempo averiguando sua essência.


O rapaz foi à faculdade e ouviu sobre inúmeras linhas de pensamento. Viu que os alunos que mais se destacavam como “cabeças” sempre tinham uma frase de Sartre ou Nietzsche na ponta da língua, e a primeira missão foi então decorar algumas para soltá-las à mesa com os amigos à hora mais propícia. Bingo! Ele agora é um pensador! Para cada assunto há uma frase adequada, assimilada com esmero, para cada grupo uma colocação coerente, mesmo que sem coerência alguma com as outras recitadas anteriormente. Ele é adepto da filosofia de picotes – ctrl c + ctrl v – e isso parece bastar.


É assim na faculdade, e é assim na igreja. Mas na igreja não é coisa de agora, porque o rapaz aprendeu desde pequeno as frases prontas, o que muito o ajudou em suas modernosas elucubrações acadêmicas. Sabe como ninguém colocar uma aleluia no ápice do instante, sem parecer um religioso frio ou demasiadamente pentecostal, o que de fato pegaria mal à sua reputação secular, já que sua professora de sociologia deixou bem clara a conotação implícita de burrice amofinada por detrás da estética “penteca”. Freqüentou inúmeras classes dominicais e sabe a bíblia como poucos – mesmo não a tendo lido de cabo a rabo nenhuma vez sequer. É tido como uma autoridade teológica dentre os de sua congregação, ainda mais agora que a bíblia tornou-se apenas amuleto de enfeite e serve mesmo é para apaziguar a ira do pastor que não aceita de forma alguma ver um crente sem sua espada que não refulge nunca. E esse pastor é como a professora antiga de internato que não suporta ver uma aluna despenteada e sem o laço da cor correta na arrumação dos cabelos castos. Nesse contexto, a Bíblia é tão somente um livro bibelô, e isso basta.


Ele está satisfeito consigo mesmo e é tido como um varão inquestionável. Um rapaz para casar, dizem as senhoras. Um exemplo a ser seguido, afirma os senhores. É líder exemplar de muitos grupos. E os outros não questionam seu caráter, já que ninguém sabe o que ele faz quando ninguém está vendo – ufa né? – e não fazem idéia do que acontece entre você e sua “corte” no banco de trás do seu carro. Realmente é muito arriscado comprar preservativos na farmácia, e foi deveras mais prático e barato comprar pela internet numa embalagem discreta que você esconde no fundo do armário. Afinal é preciso estar preparado para a hora da tentação, certo? É algo que não se premedita, que acontece naturalmente toda vez que você fica sozinho com ela. E vocês saem sozinhos quantos dias mesmo? Todos?


Muitas vezes tudo isso pesa, e o rapaz sente o peso do mundo sobre os ombros. Há meses não consegue fazer uma oração que não seja a de pedir perdão pelos seus pecados, já que as feitas publicamente não contam: são parte da estética da obrigação. Suas súplicas são velozes, e o pedido de perdão serve apenas como autorização para poder praticá-lo novamente, o mesmo vício.


E a história do rapaz prossegue vida afora. É um eixo que evolui na prática do giro, chegando ao que se chama de maturidade plena: a suprema evolução da casca a soterrar o vazio que há por dentro.
Esse é um dos retratos da geração de hoje. Ela vive o chamado avivamento como estética apenas, como um casaco de alguns instantes a ser esquecido no armário por um longo período, ao uso da conveniência estética, é claro.


Tenho encontrado vários desses por onde passo, e o engraçado é pensarem que faço parte de suas trupes. Dentre todos, os filósofos de plantão são os mais chatos, principalmente quando vêm com as frases celebres e puídas dos evangelistas norte-americanos, e seus métodos, e seus sofismas, e seus discursos acéfalos.
Fique claro que não me excluo do todo, até porque também sofro a tentação pelo vazio. O vazio é mais fácil, é mais prático. Mas do início ao fim, será sempre vazio.
Aonde eles vão parar, não sei. Mas pela Graça hoje sei aonde vou seguindo.


E você, leitor, sabe onde vai parar?


Insisto em dizer que agora é tempo de parar para pensar e olhar para dentro. Que cada um reconheça com clareza o que se vive, porque a nossa valiosa estética para o Emmanuel, o Deus conosco, é puro lixo. E lixo não reciclável. Será preciso desnudar-se por completo para então vestir-se de linho fino, puro e resplandecente, vestes estas doadas somente por Ele, que nos remeterão à Justiça.


Por fim, que seja feita toda justiça, para Ele e por Ele.


Nele que nos faz ver,
Lucas Souza

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