Era um daqueles dias que eu considero perfeito. Domingo, levantei por volta das 10:00. O céu sem nenhuma nuvem e o vento frio do inverno soprava manso, mantendo o clima ideal. Almocei a tradicional macarronada com frango assado e batata, que só minha mãe sabe fazer. Logo em seguida, resolvi tirar um cochilo de pelo menos uma hora. Assim que levantei, percebi a casa toda em silêncio. Procurei em todos os cômodos e não achei ninguém. O mais estranho é que estava tudo aberto. Senti um frio na barriga e alguns pensamentos estranhos passaram pela minha cabeça. Desci as escadas para ver se meus pais estavam conversando com a vizinha, mas nada. Subi correndo, esperei um pouco sentado no sofá. Era quase hora de ensaio do louvor e ninguém tinha aparecido ainda. O desespero bateu forte. Comecei a orar. No meio das palavras meio sem nexo, deixei escapar um “Ai meu Deus, eu fiquei!”. Dentro da minha cabeça adolescente, na época por volta de 15 ou 16 anos, Jesus Cristo tinha voltado, arrebatado meus pais e meus amigos e eu tinha ficado. Cinco minutos depois, meus pais chegam com sacolas da padaria. Fiquei extremamente sem graça quando os vi.
Hoje conto para meus amigos essas histórias e todos caem na risada. Mas essa era minha mentalidade na época. Eu era totalmente bombardeado com esse tipo de doutrina (?). “Se você fizer (ou não) isso ou aquilo, você vai pro inferno”. Minha, se assim posso chamar, relação com Cristo, era totalmente baseada em medo. Medo de ir para o inferno. Medo de perder a salvação. Medo de que eu fosse castigado. Medo de ser exposto. Medo. Medo. Medo. Medo.
Com o passar dos anos, algumas experiências bem dolorosas me fizeram enxergar algumas coisas que carrego comigo até hoje. As decisões e atitudes que eu precisava tomar, os posicionamentos que deveria ter, o moldar do meu caráter e tudo o mais, deveriam ser baseado no meu amor por Cristo e não pelo medo de qualquer coisaque fosse. E quando isso foi realmente incutido no meu ser, o fardo se tornou muito mais leve. Eu tinha um norte. Uma referência sólida para onde e como eu deveria caminhar. As lutas vieram e ainda vem com muita força. A tentação bate a porta a cada suspiro e não foram poucas as vezes que eu caí. Não foram poucas as vezes em que fui parar no fundo do poço. Mas o fato de estar alicerçado no Amor, me levou, e ainda me leva, a profunda e verdadeira busca por arrependimento. A sensação é a seguinte “Hey! Que droga. Magoei a pessoa que mais se importa comigo. A pessoa que, por tanto me amar, morreu em meu lugar”. Esse sentimento, por mais clichê que pareça, me dá forças para se levantar, compartilhar minhas dificuldades com meus irmãos de caminhada e seguir em frente. Arrependimento. Essa é a palavra chave para uma vida cristã que busca crescimento e maturidade. Cristianismo que não leve a cruz de Cristo não é digno de ser seguido. E cruz que não leve ao arrependimento, pode ser a de qualquer um, menos a de Jesus. Mas ok! Você deve estar se perguntando o porque de toda essa ladainha. Teóricamente, esse deveria ser um texto sobre sexualidade e até agora não citei nada que referenciasse isso. Mas o ponto que quero focar é o seguinte. Dentro de um contexto, dito, cristão, porque é que você busca viver uma sexualidade saudável? Pressupondo que você realmente queira isso. É fato que sexo ainda é um grande tabu nas igrejas cristãs. Mas hoje temos uma abertura gigante, livros e videos muito bons disponíveis a quem quiser ver, ler e se aprofundar sobre o assunto. Temos grandes conselheiros, sexólogos e psicólogos cristãos que tem embasamento para falar sobre o assunto. Mas ainda sim, o que te motiva na busca pelo posiconamento de Deus sobre sexo? Porque Deus fala muito sobre sexualidade na bíblia. Você acha que Ele deixaria de lado um assunto de extrema importância e que nos torna cooperadores da criação de Deus, na potencialidade de podermos gerar outra vida através do relacionamento sexual?
Sobre a motivação, vou te dar duas alternativas. A primeira resposta poderia ser – “Eu não quero ir para o inferno!”. A segunda – “Eu amo aquele que me criou e quero viver tudo aquilo que Ele planejou para mim”. Aparentemente, as duas opções estariam corretas. Mas o que estou tratando aqui é de foco e prioridade. Todos os dias, literalmente, leio mensagens de pessoas afundadas em vícios sexuais. E o clamor da maioria delas tem a ver com “não ir para inferno”. Não se engane. Em hipotese alguma estou anulando a atuação do diabo e nem excluindo a existência do inferno. Mas, por experiência própria, quando temos esse tipo de conceito por base, na maioria das vezes, confundimos arrependimento com remorso. E quando não temos um verdadeiro coração arrependido, caímos em um círculo vicioso que parece invencível. Por outro lado, você pode até estar vivendo, aparentemente, uma vida sexual sáudavel. Mas quando o barco balançar – e ele vai balançar – qual será a sua postura? Então, antes de mais nada, gostaria de propor uma reflexão. Que você possa se perguntar que sentimentos tem governado sua vida e onde eles tem te levado. A escolha parece simples, mas não é. Deus deixa claro que quer nos dar vida e vida em abundância. Ele não nos criou para simplesmente sobreviver. Mas sim, viver plenamente sem falta nada. E quando eu digo sem falta nada, incluo também tristeza, choro, dor, desapontamento, quedas, e por ai vai. Então é bom a gente decidir sobre quais bases vamos construir a nossa vida. E, para ninguém dizer que não citei nada da bíblia até agora, deixo as doces, e ao mesmo tempo, duras palavras do apóstolo João.
“Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” (I João 4:8)
“No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (I João 4:18)
Que nossa vida seja uma caminhada em Santidade através do Amor e não uma corrida desordenada baseada em medo.
Em amor,
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