Confissões sinceras de um coração sem DEUS

domingo, 3 de outubro de 2010 1 comentários
Não deixe de ler a primeira parte aqui!


Não quero ser adorador. Não tenho estômago. Sou lúcido demais para alienar-me quanto à verdade da adoração. Sincero demais para aceitar subterfúgios que reduzam sua gravidade. Também não estou disposto a performances religiosas ou espasmos emocionais cujas características externas sirvam de disfarce. Tenho pavor de delírios coletivos ou manipulações de qualquer ordem. Posso não ser perfeito (estou muito longe disso!), mas também não sou hipócrita. Sei o que é adoração e repito: não quero ser adorador!
Por favor, não se assuste comigo ou minha postura enfática. Creia-me: você também não deseja ser adorador. Por quê? Porque adoração é reconhecimento. O adorador reconhece a dignidade, a grandeza e a santidade daquele a quem adora. Confessa seus atributos, exalta as maravilhas de seu caráter, agradece o favor recebido e compromete-se com suas exigências de conduta e condição. Elogia, não como quem faz política de boa vizinhança, mas como quem percebe a inegabilidade do fato: o adorado é Deus, com toda plenitude que essa palavra quer evocar.

Não entendeu? Acompanhe-me com paciência. Adoração é via de mão-dupla, como todo reconhecimento verdadeiramente fundado: a dignidade do adorado é, ao mesmo tempo, a prova da indignidade do adorador. A grandeza daquele, prova da pequenez deste. Sua santidade, prova do pecado e da maldade naturais do que se aproxima. Se este confessa atributos, confessa-os na qualidade de quem é desprovido. Se exalta o caráter divino, exalta-o na expectativa do tratamento que seu próprio caráter tanto necessita. Se agradece o favor, agradece-o como imerecido. Se compromete-se, é com aquela convicção de incapacidade e fraqueza que não esconde a tendência ao fracasso, não fosse a misericórdia celestial.
Não, não estou exagerando. O adorado é luz e o adorador, trevas. Estas, como o próprio Jesus Cristo afirmou, fogem daquela. Eu fujo, pois dói em meus olhos acostumados às sombras. É... eu bem que poderia colocar óculos escuros, com lentes coloridas, quem sabe? Eles me ajudariam a resistir à força da luz, incorporando-a, aos poucos, à minha própria escuridão. Claro que ela não se renderia; continuaria brilhando, intensa, reveladora. Mas eu não a notaria em todo seu fulgor. Veria de modo ofuscado, apagado, irreal. Seria mentira, mas bem-estar. Sinto, porém, que cairia naquelas outras palavras do Mestre: se a luz que há em ti são trevas, que grandes trevas são!
Insisto: não quero ser adorador. Teria que negar minhas pretensas qualidades pessoais, as quais - gosto de crer - distinguem-me dos demais. Teria que anular as demandas da autoestima, pois haveria de perguntar, ante tanto esplendor, “quem sou eu” ou “que valor tenho em mim mesmo, para que seja amado”. Não sei se tenho fôlego ou disposição para uma renúncia nesses termos. Precisaria aceitar verdades a respeito da Graça e do Amor que não quero, depois, ter que compartilhar com meus desafetos ou incômodos relacionais. Pior ainda: teria de obedecer, com alegria, as exigências da fé e servir, com gratidão de alma, às prioridades espirituais. E se falhasse,
teria de adorar com coração quebrantado e arrependido, à espera de perdão, o que só aumentaria a percepção da distância e da diferença. É muita coisa para mim.
Agora me compreende? Dureza essa conversa de adoração, não acha? Acredito que, para uma pessoa ser adoradora de fato, ela precisaria estar morta, ao menos para si mesma. Entregue, certamente, sem reservas ou vaidades, a uma confiança tal que somente uma certeza de mediação e reconciliação plenas poderia conferir. Talvez, imagino, tomada por um Espírito outro, direcionador, confrontador, revelador, e ainda amável, bondoso, fortalecedor, para que não desanime no caminho nem desvie para as tentações do ego e do orgulho.
Mas onde, por Deus, alguém poderia encontrar tudo isso? Em quem, meu Jesus, em quem?
Anônimo

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