De barro mas honrado

domingo, 7 de agosto de 2011 1 comentários




Mais uma vez estou aqui, nesta mesa, e as vezes tenho a impressão que nunca sairei. Eu te observo, vejo a expressão do seu rosto enquanto me modela, parece que sairá daqui satisfeito, como quem sabe o que está fazendo. Eu é que não entendo muito bem.

Porque antes de me colocar aqui, me fez passar por tudo que passei? E aliás, porque estou aqui há tanto tempo? Pelo jeito que me olha, que me amolda, era pra eu ser perfeito há muito tempo. E porque me desfez tantas vezes? Não pode me tirar da tua roda depressa? Eu sofro demais! Por quanto tempo ainda vai cortar o meu barro? Quando isso vai terminar? Parece que cada volta que tua roda dá, uma pontada enorme me atinge e algo de mim some, mas isso dói.

Finalmente sai da roda, e fui colocado na prateleira, mas sua feição não era das mais agradáveis. “Você quis assim, você pediu pra sair, eu não queria, você ainda está incompleto, está frágil, mas te respeito”, o meu Oleiro me disse. Eu queria ser comprado por alguém rico e enfeitar uma bela sala, e assim dar honra ao meu Oleiro que me desenhou tão bem. Mas não foi assim, fui usado por um tempo mas depois fui jogado de canto e esquecido por aqueles que me compraram. Eu achei que seria útil, que as pessoas me olhariam e se admirariam com minha beleza, mas ninguém me achou perfeito, e conforme eu ia caindo, tombando, algo em mim ia quebrando e lascando, até que caí pela última vez, e fiquei em pedaços no chão, e por fim me jogaram fora.

Mas que mãos são essas que me pegam tão suavemente? Eu conheço esse toque. Ele disse: “Vem, irei te refazer e você será meu, te colocarei em minha mesa”. Por que Ele insiste em mim? Como me achou e porque veio me buscar? Eu não presto mais para nada! Será que Ele ainda vê algo de bom em mim?

Ele me colocou na roda novamente, mas era diferente, não reclamava mais da dor, pois sabia o que já tinha enfrentado antes, e sabia que o propósito do meu oleiro era maior em me fazer algo lindo pra ele! Nem sinto mais a dor da faca, e parece até que cada corte me reconstrói. Agora eu percebo que meu oleiro sabe o que faz, ele tem em vista o meu futuro e cada desenho que faz em mim é pensando nele. Não mais quero sair desta roda a menos que seja para ser colocado na mesa de quem me recolheu mesmo estando quebrado, sem honra e nem alguém que me desejasse assim.

E ele me terminou e me colocou em sua mesa revestida de ouro. Porque eu insistie em ser comprado por alguém rico se o meu oleiro é dono de tudo? E porque insisti em sair do processo na metade se meu Oleiro me planejou e me quer assim?

Quando ninguém mais me achou útil, o meu Oleiro estava lá para me buscar. E agora vivo com Ele, recebendo a maior de todas as honras: ser dele! O meu Oleiro me fez conforme ele tinha planejado, cada detalhe. Mesmo quebrado, moído, Ele viu em mim valor. E ele me disse que sou um vaso de honra, e que em mim Ele guarda um tesouro! Que meu Mestre se orgulhe de mim, pois Sua obra Ele aprecia quando a termina assim.

“Então fui à casa do oleiro, e o vi trabalhando com a roda. Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade.” (Jeremias 18: 3-4)

“Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” 2 Coríntios 4:7

Que Deus continue em nós a obra...
@CamilaZaponi



(@juvenarocha)


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